Faz
algum tempo que ouvi a expressão “serrando o próprio galho”, a
identificação foi imediata. Pensei: - É isso! É justamente isso
que faço – eu? – desde que me entendo por gente.
A
imagem de alguém sentado no galho de uma árvore, com um serrote na
mão, serrando, de forma contínua, exatamente o galho onde está
sentado é a melhor imagem para a chamada auto-sabotagem. Não se
sabe por quê nem para quê, mas o indivíduo parece querer se
espatifar no chão. No mínimo estranho.
É
assim que me sinto desde que descobri que minha mente trabalha contra
mim. Parece que estou sempre me boicotando, sendo minha própria
“estraga prazeres”. Os sentimentos ou pensamentos são variados,
desde sentimento de incapacidade a sensação de não-merecimento de
uma alegria ou um prazer.
Por
muito tempo eu acreditei em tudo aquilo que minha mente me dizia.
Achava que era tudo verdade e que eu realmente não merecia muitas
alegrias. Depois passei a perceber que havia muitas mentiras nesses
sentimentos, que tratava-se de uma grande auto-sabotagem. A partir
daí meu desafio mudou: antes era tentar melhorar a perversa pessoa
que eu me considerava ser, depois foi acreditar que eu não era uma
pessoa tão perversa assim.
A
luta é grande e cansativa. Quase todos os dias preciso lidar com
pensamentos e sentimentos que me causam angústia (por possíveis
coisas ruins que possam vir a acontecer), medo (pela sensação de
incapacidade diante de alguma tarefa) ou tristeza (por me sentir uma
pessoa, esposa, filha, amiga, funcionária ruim; ou sem nenhum motivo
específico, apenas por sentir).
Há
dias muito bons em que minha mente me dá trégua e assim consigo
viver de uma forma mais leve, sem angústias. Olhar a vida com mais
tranquilidade, alegria e esperança. Nesses dias fico encantada com a
possibilidade de acreditar nas coisas boas e sorrir para os detalhes
ao meu redor.
Tenho
certeza de que vou precisar conviver com a tentação de serrar o meu
próprio galho para o resto da minha vida. Acredito que isso é uma
espécie de vício... meu espinho na carne. Mas tenho muita esperança
em tirar os olhos do galho e olhar para a bela vista do alto da
árvore e ter sempre a certeza de que quem me segura não sou eu, mas o próprio Deus.
*Foto: Paula Mazzini