29 março, 2010

Quando o sofrimento torna-se estéril

Enquanto caminho pelos meus vinte e poucos anos, olho admirada aqueles que já estão caminhando “há mais tempo que eu” (já andei dizendo isso por aqui, eu sei!). É que permaneço convicta de que aprender com a experiência dos outros é algo importante para nosso crescimento. Uma das coisas que tenho percebido neste caminho é a maneira como as pessoas encaram e vivenciam seus sofrimentos.

Quando me deparava com pessoas felizes, dispostas e bem-resolvidas eu tinha a ingênua impressão de que elas não sofriam, ou pelo menos não passavam por crises significativas. Aos poucos fui percebendo que todas elas enfrentavam sim dificuldades, e boa parte delas eram mesmo grandes. E aí, passadas as visões heróicas, pude enxergar a humanidade de cada um, sua interessante forma de superação e, especialmente, aprendizado em relação aos dilemas e sofrimentos.

Mas vi também o oposto. Percebi pessoas que realmente passaram por problemas difíceis e grandes sofrimentos na vida. Mas que, por diversos motivos, se fixaram (ao que parece de forma definitiva) em suas dores. A princípio, ao ouvi-las lamentando é inevitável sentir uma grande compaixão por causa de toda aquela dor, mas depois de algum tempo a compaixão tem outro motivo: dói perceber que todo aquele sofrimento se tornou estéril.

Estéril por que no fim de tantas palavras repetidas por tanto tempo não há nenhuma mudança, aprendizado ou guinada no caminho. A vivência de tantas coisas se tornou apenas a razão para mais amargura e insatisfação. E assim, um sofrimento real se perde em discursos vazios e sem fim.

Sei que não posso medir o alcance ou o estrago que o sofrimento pode causar a alguém, não tenho esta pretensão. Mas ao olhar pra mim mesma e para outros exemplos, consigo crer que um novo olhar em relação ao sofrimento é possível e que se não resolvermos caminhar ficaremos perdidos nas palavras, palavras que já nem comovem mais e que não frutificam.

Que Deus tenha misericórdia de mim e me faça ter em meu sofrimento a possibilidade de colher frutos para uma vida mais saudável, pela graça Dele.